quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Revolução Industrial

4- O TRABALHO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL



            Partindo do pressuposto que a revolução industrial trouxe mudanças consideráveis para toda a estrutura da sociedade moderna. A categoria trabalho concerteza foi quem mais diretamente sentiu seus efeitos.  Hobsbawm (2005) traça o ímpeto da industrialização, demonstrando como a mobilização e transferência de recursos econômicos, a adaptação da economia e da sociedade são necessárias para manter o novo curso revolucionário.
            Encontra-se na mão-de-obra o fator mais crucial a ser mobilizado e transferido. Assim sendo, o rápido crescimento das cidades dos agrupamentos agrícolas na Grã-Bretanha fornece um grande exercito de reserva de trabalhadores, dos quais vindo do campo para as cidades. Observa-se uma mudança na concepção de trabalho ainda em seu primeiro estágio, pois o trabalhador agrícola era atraído para novas ocupações, por vezes completamente diferente de sua rotina anterior. (HOBSBAWM, 2005)
            Esses trabalhadores além de encontrarem toda uma gama de trabalhos diferenciados que exigiam qualificações e habilidades necessárias para as atividades nas indústrias, essa mão-de-obra tinha que atender aos incentivos monetários. Ora os empregadores britânicos reclamavam da “preguiça” do operário dou de sua tendência para trabalhar até que tivesse ganhado um salário tradicional de subsistência semanal. (HOBSBAWM, 2005).
            As fábricas priorizavam empregados mais dóceis, nesse caso mulheres e crianças, podendo assim pagar também baixos salários. Weber (2005) discute essa questão de trabalhadores mais dóceis demonstrando como a reforma protestante influenciou no comportamento dos trabalhadores. O trabalho passa a ser visto como o criador de toda a riqueza, o que resultou na discussão sobre o seu significado.
Weber (2005) analisa a relação entre a ética protestante e o espírito do capitalismo, procurou demonstrar claramente essa mudança de atitude e de concepção em relação ao trabalho. O trabalho passa a ser encarado como uma virtude, e, ao se trabalhar arduamente, pode-se chegar a ter êxito na vida matéria, que é expressão das bênçãos divinas sobre os homens. Essa concepção protestante em relação ao trabalho vai servir muito bem à burguesia comercial e depois a indústria, que precisava de trabalhadores dedicados, sóbrios e dóceis em relação às condições de trabalho e aos baixos salários.
            Ao analisar a questão do trabalho na sociedade capitalista, é importante deixar claro que não existe uma única sociedade capitalista, mas muitas que se constituíram em diversas regiões do planeta. Entretanto o que elas têm em comum é a forma como a produção material se desenvolve. Desse modo os que a define como sociedades capitalistas é a propriedade privada, o trabalho assalariado, o sistema de troca e uma determinada divisão social do trabalho. (TOMAZI, 2000).
            Concorda-se com Thompson (1998) que identifica todos esses acontecimentos como problemas sociológicos, logo há a necessidade desse entendimento.  Podemos afirmar que na sociedade capitalista o trabalhador é detentor de sua força de trabalho, que é vendida ao capitalista, dono dos meios de produção, em troca de uma remuneração que deveria garantir a sobrevivência do mesmo e sua consequente reprodução, garantindo desta forma a multiplicação do contingente de trabalhadores. É importante ressaltar que no sistema capitalista existe uma exploração funcional do trabalhador, que garante a composição do lucro do capitalista, qual seja a mais-valia. (MARX, 1996)
A mais-valia deve ser entendida como tudo aquilo que é subtraído do trabalhador pelo capitalista durante o cotidiano na exploração de sua força de trabalho e na remuneração desse trabalhador, ou também, como a forma específica que assume a exploração sob o capitalismo, à diferença específica do modo de produção capitalista, em que o excedente toma a forma de lucro e a exploração resulta do fato da classe trabalhadora produzir um produto líquido que pode ser vendido por mais do que ele recebe como salário. (MARX, 1996)
            O trabalho se transforma em força de trabalho quando se torna uma mercadoria, que pode ser comprada e vendida. E, para que ele se transforme em mercadoria, é necessário que o trabalhador seja desvinculado de seus meios de produção, ficando apenas com sua força de trabalho para vender o trabalho assalariado existiu desde a antiguidade, mas não de maneira tão extensiva e dominante, como após a revolução industrial. (TOMAZI, 2000).
            A emergência do trabalhador assalariado é simultânea à do capitalista. Sendo dois elementos indissociáveis, do mesmo momento histórico. Se houve transformações na própria forma de produzir mercadorias, alterando a divisão social do trabalho e toda a estrutura da produção, houve também mudança na concepção de trabalho, ou seja, mudou-se a maneira de pensar a respeito do ato de trabalhar.
            Neste caso são as horas trabalhadas e não pagas que, acumuladas e reaplicadas no processo produtivo, vão fazer com que o capitalista enriqueça rapidamente. E assim, todos os dias, isso acontece nos mais variados pontos do mundo: uma parcela significativa do valor-trabalho produzido pelos trabalhadores é apropriada pelos capitalistas. Esse processo denomina-se acumulação de capital. Em outros termos, portanto, capital nada mais é do que: o trabalho não pago, isto é, aquela parte que o trabalhador produz e que não lhe é paga (mais-valia) vai para os bolsos do patrão. (MARX, 1996).
            Para obter mais lucros, os capitalistas aumentam as horas de trabalho, gerando a mais-valia absoluta, ou, então passam a utilizar equipamentos e diversas tecnologias para tornar o trabalho mais produtivo, decorrendo daí a mais-valia relativa, ou seja, mais produção e mais lucro com o mesmo número de trabalhadores, cujos salários continuam sendo os mesmos. (MARX, 1996)
            Marx e Engels (2005) que procurou demonstrar a existência de um conflito de classes entre trabalhadores e capitalistas, elemento este que é inerente à sociedade burguesa. Explica que os conflitos entre os capitalistas e os operários aparecem a partir do momento em que os trabalhadores percebem que estão trabalhando mais e que, no entanto, estão a cada dia mais miseráveis.
            Durkheim (1999) analisa as relações trabalho na sociedade capitalista de forma diferente. Em seu livro a Divisão do trabalho social, procura demonstrar que a crescente segmentação do trabalho, resultante da produção industrial moderna, trazia consigo uma forma superior de solidariedade e não o conflito. Para Durkheim, toda ebulição no final do século XIX não passa de uma questão moral. Os conflitos não tinham nada de norma, para ele, faltavam instituições e normas integradoras que permitissem que a solidariedade advinda da divisão do trabalho pudesse se expressar e, assim por fim aos conflitos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. O Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2005.

HOBSBAWM, Eric J. “A revolução industrial”. A era das revoluções 1789-1848. 18ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 1vol. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

THOMPSON, Eduard P. “ Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial”. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia  das letras, 1998.

TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à Socilogia. 2ª ed. São Paulo, 2000.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2005.

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